sexta-feira, 23 de agosto de 2013

“Jesus é babado!” A aventura das “bichas pintosas” nas igrejas evangélicas

As igrejas evangélicas contam com muitos fiéis homossexuais. Alguns testemunham “a cura” e esses sempre estão falando do milagre da conversão heterossexual; outros, e são a grande maioria, se mantém no armário.
Para sobreviver nesse espaço de violência simbólica que são os templos evangélicos, é preciso saber manter seus desejos e, algumas vezes, as práticas em segredo. Mas e as “bichas pintosas”, que lugar elas têm nessas igrejas? É possível ser feminina e evangélica?
Antes de responder essa questão, quero chamar atenção para uma reflexão, a partir de uma pesquisa realizada nos EUA, com jovens de 16 a 29 anos de idade, que identificou um declínio na reputação do cristianismo. Apenas 3% dos jovens não-cristãos, dessa faixa etária, têm boas impressões dos evangélicos.
É significante também outro dado. Para 91% dos jovens não-cristãos e 80% dos fiéis a percepção mais comum do cristianismo é que ele é “anti-homossexual”. Jovens cristãos têm uma percepção de que o cristianismo tem feito a homossexualidade um “pecado maior” do que qualquer outra coisa e os não-cristãos acreditam que o cristianismo tem sido excessivamente desrespeitoso para com os gays e as lésbicas.
É sintomático que o cristianismo seja talvez mais lembrando por aquilo que se opõe do que pela própria representação/testemunho de Jesus Cristo. Isso é bem fácil de perceber. Diversas igrejas falam mais do diabo do que das divindades ou líderes religiosos que falam muito mais da homossexualidade que do evangelho e as “boas novas” que dizem pregar.
A excessiva oposição dos evangélicos aos homossexuais no Brasil está se transformando numa batalha/guerra. Recentemente, após a derrota do projeto que visava oferecer tratamento para pessoas que “desejassem” mudar sua orientação sexual, líderes religiosos ameaçaram que, em 2015, tornarão a colocar o projeto em votação, num tom de guerra e ódio pouco cristão.
Por tudo isso podemos perceber o quanto as religiões evangélicas são aversivas aos não-heterossexuais. Embora exista essa aversão, elas estão cheias de gays e, desses, pouquíssimos podem testemunhar a cura.
O que chama atenção é a grande quantidade de gays que não conseguem entrar no armário, as pintosas, sempre denunciadas por um comportamento não esperado do seu gênero.
Lembro-me de, certa vez, estar local em que uma grande quantidade de evangélicos começou a entrar. Uma dessas pessoas era um rapaz de uns 16 anos que andava dançando com passos muitos similares aos das danças do Candomblé. Ele cantava: “E o crente vai, dando glória, o crente vai, dando glória, o crente, vai…” Nesse momento um homem olhou pra mim e disse: “Vai dando o …” Tentei não rir desse ato de homofobia, mas era bem possível que o rapaz não fosse um heterossexual feminino, mas uma bee feminina.
Por conta de alguns textos que publiquei nesse blog sobre religião, algumas gueisfizeram contato comigo para falar um pouco de suas vidas e tentei entender como conseguiam lidar com as demandas religiosas.
Ainda dentro desse contexto, lembro-me de uma peça que assisti, chamadaTransmetrópolis, na qual uma personagem gay convertido dizia: “Jesus é babado!”, num tom muito fexativo. O personagem em questão foi pensando a partir de observações de Filipe Harpo (diretor) sobre essas gueis pintosas.
Como essas bichas conseguem sobreviver num espaço que lhes condena? Que estratégias desenvolvem para lidar com sentimentos, desejos e práticas que vão de encontro às pregações religiosas?
Conversando descobri que algumas têm uma estratégia para vivenciarem sua homossexualidade, que consiste em fazer uma divisão da parafernália evangélica. Essa divisão consiste em separar uma parte da pregação como sendo orientação da igreja ou do pastor, e uma outra parte, mais importante, como mandamento divino.
Com essa divisão, as pintosas e até as durinhas podem vivenciar a homossexualidade no segredo, entendendo que Deus não irá condená-las. Não significa que elas acreditem que estão fazendo a coisa certa, pois ainda pensam que estão pecando mas que, no último dia, Deus irá perdoar as suas “faltas”.
Mesmo não conseguindo esconder sua homossexualidade, as pintosas escondem as práticas, pois como os evangélicos têm repetido o mantra: “Deus ama o homossexual, mas condena suas práticas”, o foco em questão é manter-se casta, pura e santa.
Essa divisão é um tanto quanto esquizofrênica, pois ela não absolve a guei do pecado, mas como a mesma se sente especial em Cristo, acha que não será condenada, com a pena inventada pelo reducionismo evangélico.
A proposta evangélica também é uma furada, pois nem o pastor acredita que uma pintosa vá se transformar numa machuda e, por isso, jamais aconselhará sua filha a casar com uma pintosa, mesmo depois que essa se diga curada. Até porque já ouvi falar da produção da heterossexualidade por Cristo, mas nunca da masculinidade.
Outra estratégia que as pintosas usam é pagar a sua feminilidade (incômoda ao reducionismo evangélico do gênero natural) com trabalho voluntário e abnegado na igreja. Muitas dessas bees estão liderando grupos de jovens na igreja. Elas fazem cartazes, decorações e coreografias de música gospel. Não estou dizendo que todo jovem que faz tais atividades é gay, pois os heterossexuais também podem ser artísticos e sensíveis, mas observei que as gueis gostam desses lugares (elas dão close, brilham, mesmo na igreja).
Mas por que essas pessoas estão nesses espaços que lhes condenam? Como sustentar um lugar que cria o pecado, encaixa os sujeitos, condena seus atos, e promete-lhes a cura? O que fazer nesse lugar que traz culpa, ansiedade, inadequação e outros sentimentos aversivos? Essas perguntas pretendo responder num outro texto.
Por hora, gostaria de destacar que as igrejas estão cheias de homossexuais e não apenas as evangélicas; católicas também! Nem todos os sujeitos podem testemunhar a cura, alguns terão que viver no armário, já outras terão que fazer muitas coisas para compensar a sua feminilidade. Mas nem tudo é opressivo, e por que não pensar que o mundo cristão também não pode oferecer um palco para essas bichas brilharem? Brilhem em Cristo garotas, mas não oprimam azamigas com esse discurso de santidade!
Um conselho cristão: Deus ama ao que dá com alegria (II Co 9,7)
(Gilmaro Nogueira)
 
 
 
Kayron Lobo
Assessor de Comunicação

Um comentário:

  1. Nada contra a homoafetividade, mas, às vezes as "pintosas" exageram. Gostar de homens é uma coisa, mas querer ser uma "mulher", já é outra. Acho tão respeitoso quando vejo gays com postura, que sabem se portar. Gostar de homens é uma orientação sexual da pessoa que simplesmente não muda, porém, alguns gays usam de sua orientação para aparecimento pessoal, e depravamentos. Quem exige respeito, deve primeiramente se dá ao respeito. Assim, todos vivem bem.

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