sábado, 30 de outubro de 2010

‘TEMOS MEDO DE IR ÀS FESTAS DA USP’, DIZEM GAYS VÍTIMAS DE HOMOFOBIA


Casal se abraça durante entrevista nesta terça (Foto: Kleber Tomaz /G1)O casal gay que diz ter sido vítima de homofobia na festa universitária “Outubro ou Nada”, realizada por alunos da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP em uma mansão no Morumbi, na Zona Sul de São Paulo, na madrugada de sábado (23), afirma ao G1 que está com medo de participar de outras festas da universidade. Em abril, um estudante gay de farmácia da USP já havia sofrido ataques homofóbicos num jornal feito por alunos do curso. Naquela ocasião, o motivo das agressões verbais é que o homossexual tinha ido a uma festa.

“Estamos com medo de ir às festas da USP agora”, declara Henrique Andrade, de 21 anos, estudante de biologia da universidade, e seu namorado, um aluno de 22 anos da arquitetura da USP que prefere não ter o nome divulgado, em entrevista concedida ao G1 na tarde desta terça-feira (26), dentro de uma sala do Instituto de Biociências, no Butantã, na Zona Oeste. De mãos dadas, eles aceitaram ser fotografados pela reportagem, desde que não mostrassem os rostos. “Não queremos aparecer. Queremos que haja segurança para gays nas festas uspianas.”

Casal gay relata homofobia durante festa universitária da USP em mansãoJornal de alunos de farmácia da USP pede para jogar fezes em gays
No sábado passado, os namorados foram à festa "Outubro ou Nada", num casarão no Morumbi. Lá, relatam, estavam sentados em um sofá, conversando e abraçados, quando foram surpreendidos por outros três jovens que os xingaram com palavrões homofóbicos e os agrediram com chutes e socos. “A segurança demorou para agir e retirar os agressores. Além dos ataques homofóbicos, reclamamos também da demora dos seguranças para impedir as agressões contra nós”, diz o estudante de arquitetura.

As marcas das agressões já sumiram de seus corpos, segundo o casal, mas as lembranças da surra persistem. Disposto a reagir, Henrique fez um boletim de ocorrência na manhã desta terça na Polícia Civil. Como homofobia não é crime, o caso foi registrado como injúria e lesão corporal na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), na região central da capital.

A Decradi ainda não instaurou nenhum inquérito para apurar o caso porque a vítima não representou contra os agressores. Para que haja uma investigação, os estudantes deverão entrar com uma queixa-crime no prazo de seis meses. O problema é que os acusados ainda não foram identificados. “Era um gordo, um musculoso e outro garoto com estatura mediana. Se não tivéssemos saído da festa, teríamos ido direto para o hospital porque os agressores estavam dispostos a nos espancar mesmo. Soube que eles não eram alunos da ECA”, diz Henrique. "Ainda vamos estudar se entraremos com a representação. Nossa intenção não é culpar ninguém, mas tentar impedir que novas ações de homofobia como essas ocorram em eventos da USP".

Em nota, a Atlética da ECA, que organizou a festa "Outubro ou Nada", lamentou as agressões verbais e físicas contra o casal de alunos da USP. Por telefone, Daniela Bernardes, atual presidente da atlética, afirma que a questão da demora no socorro da segurança contratada durante a festa será apurada. “Também estamos estudando ações para que fatos como esse não voltem a se repetir. Para isso, vamos fazer uma campanha de conscientização", disse Daniela. "Vamos fazer o possível para tentar identificar os agressores."

A Coordenadoria do Núcleo de Combate à Discriminação, Racismo e Preconceito da Defensoria Pública do Estado de São Paulo sugere que o casal tente identificar e reconhecer os suspeitos da agressão por meio das imagens que foram feitas na festa. Uma equipe foi contratada pela Atlética da ECA para tirar fotos dos convidados durante o evento. “O núcleo ofereceu assessoria e apoio aos jovens, caso eles decidam entrar com queixa-crime, pedir uma indenização ou dar entrada num processo administrativo contra homofobia”, afirma a coordenadora do núcleo, a defensora Maíra Diniz.

O diretor do Instituto de Biociências da USP, Wellington Delitti, e o Centro Acadêmico de Biologia da universidade também repudiaram o ataque homofóbico durante a festa universitária. "O que ocorreu com os alunos beira uma barbárie", diz Delitti. O Centro Acadêmico divulgou um comunicado (leia mais abaixo).

Apesar de ter sido organizada por estudantes da ECA, a festa "Outubro ou Nada" era aberta a quem comprasse os convites. Convidados pagavam R$ 45 pela entrada, enquanto alunos da USP tinham de desembolsar R$ 35.

Na noite do próximo dia 5 de novembro, o Centro Acadêmico de Biologia e o casal de alunos querem promover uma festa de protesto contra a homofobia intitulada “Na Bio Pode”. “Será uma festa importante no Centro Acadêmico para dizer que na biologia podemos ser quem somos”, disse o professor de antropologia e filosofia Rui Murrieta, amigo do casal.

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